Projeto Pró-Espécies (Leopardus munoai). Plano de Ação Territorial da Serra do Sudeste e Campanha Sul (PAT)/(WWF)

No sentido de minimizar os impactos sobre as espécies ameaçadas de extinção, especialmente sobre aquelas que não estão contempladas por instrumentos de conservação existentes, o Ministério do Meio Ambiente, em colaboração com suas agências vinculadas e organizações parceiras, desenvolveu o Projeto “Pró-Espécies: Todos Contra a Extinção”. O Projeto busca alocar recursos e adotar ações de prevenção, conservação, manejo e gestão que possam minimizar as ameaças e o risco de extinção das espécies. A expectativa é que sejam tomadas medidas para proteção das espécies ameaçadas do país, em especial para as 290 espécies que estão em situação mais crítica, com o envolvimento de 13 estados brasileiros.

O Projeto Pró-Espécies é coordenado pelo Governo Federal por meio do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e financiado pelo Global Environment Facility – GEF (www.thegef.org). A agência implementadora do projeto é o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) e o WWF-Brasil foi selecionado para atuar como a agência executora do Pró-espécies, sendo, portanto, o responsável pela execução técnica e financeira dos recursos do Projeto, integrando União, estados e municípios na implementação de políticas públicas em pelo menos 12 áreas áreas-chave para conservação de espécies ameaçadas de extinção, totalizando 9 milhões de hectares.

O Plano de Ação Territorial Campanha Sul e Serra do Sudeste se estende sobre a porção sudeste do Pampa brasileiro, abrangendo 18 municípios em uma área de mais de 36 mil km2. O nome faz uma homenagem a duas regiões fisiográficas que caracterizam as paisagens desse território gaúcho. A Serra do Sudeste (ou Escudo Cristalino Sul Rio-Grandense) é uma região de geologia muito antiga, com formas arredondadas de relevo, variando de altitude nas bordas (20m a 200m) e serras (400m a 600m), com diversos tipos de vegetação, desde campos, vassourais (vegetação arbustiva), florestas em encostas suaves e ao longo dos cursos hídricos. Já a Campanha é uma região de relevo plano e suave ondulado, que varia de 60 a 120 metros de altitude, chegando a 300 metros em alguns pontos, com predomínio de extensas formações campestres que só são quebradas por matas de galeria e formações arbustivas ao longo dos cursos d’água.

Seu principal objetivo é melhorar o estado de conservação de 30 espécies ameaçadas de extinção e seus ambientes por meio da valorização e promoção de práticas sustentáveis e da participação social. São 16 espécies da flora e 14 espécies da fauna que necessitam de ações prioritárias para reduzir suas ameaças e melhorar seu estado atual de conservação. As espécies da fauna incluem 12 espécies de peixes-anuais, uma espécie de mamífero, o gato-palheiro-pampeano, e uma espécie de anfíbio.

O gato-palheiro-pampeano (Leopardus munoai) apresenta distribuição restrita ao Sul do Brasil, especificamente na metade sul do Rio Grande do Sul, estendendo-se também por todo o Uruguai e uma pequena porção do nordeste da Argentina. Ainda é uma espécie pouco conhecida, nada ou pouco se sabe sobre, por exemplo, seu padrão de atividade diário, dieta e uso de habitat. Pesa entre 3 e 4 kg e se alimenta principalmente de pequenos roedores e aves campestres. É uma espécie muito rara, ocupando principalmente campos nativos (“campo sujo”) que podem incluir mosaicos de vegetação.

A espécie foi recentemente separada do complexo dos gatos-palheiros e encontra-se em situação de alto risco de extinção. Todas as estimativas de um estudo específico de adequabilidade de hábitat (com base em diferentes suposições demográficas) indicaram que L. munoai deve ser categorizado em uma das três categorias de ameaça da IUCN. Preocupantemente, várias estimativas indicaram que a espécie pode estar “Criticamente Ameaçada”.

O objetivo é “conduzir e operacionalizar as etapas de trabalho para realização de estudos técnicos e científicos voltados para conservação do gato-palheiro-pampeano (Leopardus munoai), com enfoque especial para o levantamento da ocorrência, estudos sobre a biologia e seus requerimentos de habitat, ampliação do conhecimento sobre o tamanho populacional e do conhecimento sobre fatores que definem raridade e/ou grau de ameaça da espécie, incluindo principais fatores de pressão e propostas de mitigação”.

O trabalho da contratação está relacionado às ações 1.1 e 1.3 do PAT Campanha Sul e Serra do Sudeste que estão relacionadas (de maneira mais específica e local) com ações do PAN Pequenos Felinos:

  • Realizar e estimular estudos sobre a biologia das espécies-alvo e seus requerimentos de habitat em áreas com populações conhecidas ou com ocorrência potencial no território do PAT;
  • Identificar trechos prioritários e implantar medidas de mitigação de atropelamento para o gato-palheiro-pampeano (Leopardus munoai) em alguma(s) de sua(s) área(s) crítica(s).

ATUALIZAÇÕES DO DESENVOLVIMENTO DO PROJETO: 

ANÁLISE ATUALIZADA DA SITUAÇÃO DE CONSERVAÇÃO DA ESPÉCIE NAS ÁREAS DE ESTUDO DO PAT

O apoio a este projeto, parte integrante do PAT Campanha Sul e Serra do Sudeste, proporcionou a realização de esforços inéditos para a coleta de dados sobre Leopardus munoai, uma espécie extremamente rara e ameaçada. Em uma iniciativa pioneira, foram realizadas amostragens por meio de armadilhamento fotográfico e campanhas de captura em duas regiões do PAT: Dom Pedrito e Candiota/Hulha Negra. Além disso, pela primeira vez na região, foi empregada a tecnologia de drones térmicos para busca ativa.

Graças a esses esforços, obtivemos nove registros inéditos da espécie em sete diferentes sítios amostrais em Dom Pedrito, todos capturados através de armadilhas

fotográficas. Esses registros foram feitos em uma fazenda dedicada à pecuária em campo nativo, que é membro da Alianza del Pastizal. Nossos resultados, juntamente com dados anteriores coletados na região do PAT, sugerem que gato-palheiro-pampeano está fortemente associado a áreas de Formação Campestre, destacando a importância crucial deste habitat para a sobrevivência do gato-palheiro-pampeano.

Um levantamento do MapBiomas revelou que, entre 1985 e 2022, o Rio Grande do Sul perdeu 22% de sua vegetação nativa, o que equivale a uma área de 3,6 milhões de hectares de florestas, campos nativos e áreas pantanosas convertidos principalmente para o cultivo de soja. Esta significativa perda de habitat representa uma séria ameaça à sobrevivência de L. munoai. Além disso, os atropelamentos em rodovias emergem como outra ameaça crítica, destacando a necessidade urgente de medidas mitigadoras para evitar a perda de indivíduos dessa espécie.

Para enfrentar esses desafios, é imperativo implementar ações conjuntas com produtores rurais que operam em campos nativos, gerando incentivos para esse tipo de produção, além de colaborar com órgãos responsáveis pelas rodovias. A divulgação de informações sobre a espécie e o engajamento da população local são igualmente importantes para aumentar a conscientização e promover a conservação. Neste sentido, temos promovido iniciativas de sensibilização através de produtos como vinho com rótulo do gato-palheiro-pampeano (Felinos do Pampa, Geoffroy’s Cat Working Group e Instituto Pró-Carnívoros com Batalha vinho e vinhas), ecobags e miniaturas sustentáveis (Bichos do Mar de Dentro), bem como materiais educativos como o livro infantil “Pampinha e o Poder da Invisibilidade”, apoiado por este PAT.

Em conclusão, a continuidade e expansão dessas atividades são essenciais para garantir a sobrevivência de Leopardus munoai. A proteção do habitat, a implementação de medidas mitigadoras nas rodovias e o engajamento da comunidade local são pilares fundamentais para a conservação desta espécie ameaçada. Com esforços coordenados e contínuos, é possível assegurar um futuro mais promissor para o gato-palheiro-pampeano e para a biodiversidade do Rio Grande do Sul.

Região de atuação

pampa

Equipe responsável

COORDENADORES DO PROJETO

Coordenadores e responsáveis técnicos: Flávia Tirelli e Felipe Peters

 

EQUIPE EXECUTORA

Flavia Pereira Tirelli- bióloga
Felipe Peters – biólogo
Marina Favarini- bióloga
Ana Paula Albano- veterinária
Suelen Segui – bióloga
Tatiane Campos Trigo- bióloga
Marcia Jardim- bióloga
Fernanda Teixeira- bióloga
Luisa Xavier Lokschin- bióloga
Leonardo Marque Urruth- biólogo

Galeria de imagens

Conheça mais projetos realizados pelo Instituto Pró-Carnívoros