Projeto Iniciativa Corredor da Onça-Pintada – Mata Atlântica

Introdução

A onça-pintada (Panthera onca) atualmente persiste em menos da metade de sua área de distribuição original (Sanderson et al. 2002) e é classificada como criticamente ameaçada no Estado de São Paulo (Bressan et al. 2009). Até recentemente, a espécie era dividida em 8 subespécies (Pocock 1939). No entanto, recentes pesquisas sobre variabilidade genética demonstraram a ausência de isolamento genético significativo ao longo de sua área de distribuição (Eizirick et al. 2001), o que não justifica a subdivisão da espécie e sugere que a dispersão entre populações ainda ocorre. Existe, portanto, uma urgência na elaboração de estratégias de conservação em larga escala para a onça-pintada através da caracterização das atuais áreas de importância para a espécie e da implementação de corredores ecológicos, para a manutenção de populações ecologicamente distintas.

Atualmente, existem 90 áreas identificadas como importantes para a sobrevivência da onça-pintada em longo prazo, ou ACOs (áreas de conservação da onça-pintada) (Zeller 2007). A Mata Atlântica, um dos 5 hotspots mais ameaçados do mundo (Myers et al. 2000), é considerada uma ACO de altíssima prioridade para conservação da espécie (Zeller 2007), e que apresenta uma população com poucos indivíduos, mas com habitat adequado e base de presas suficiente para sustentar uma população, caso haja uma redução nas ameaças a que a mesma está sujeita (Sanderson et al. 2002). Este estudo visa caracterizar essa ACO, determinando se a mesma é viável para a persistência da espécie em longo prazo. Os resultados desse estudo irão subsidiar importantes decisões relacionadas a futuros trabalhos com a onça-pintada no bioma, i.e., se recursos adicionais devem ser alocados para ações de conservação da onça -pintada ou se os escassos recursos devem ser alocados em outras áreas da distribuição da espécie.

 

Objetivos

Avaliar a distribuição da onça-pintada e de suas espécies de presa na Mata Atlântica para posteriormente definir áreas específicas para um levantamento da densidade populacional com armadilhas fotográficas.

 

Métodos

A área de estudo abrange a Mata Atlântica Costeira, de São Vicente (SP) à Morretes (PR). Considerando que a Mata Atlântica abriga grande parte da população brasileira, o uso de métodos convencionais de detecção não é prático na escala estudada. Dessa forma, baseamos essa fase do estudo na aplicação de questionários com moradores locais. A área de estudo foi sobreposta com um grid contendo 264 quadrículas de 90km2 cada, com base na área de vida de uma onça-pintada fêmea (Beiseigel, dados não publicado). Esse grid foi estratificado quanto ao tipo de habitat (floresta montana, sub-montada e de planície) e em seguida quanto ao grau de fragmentação (alta, média e baixa). Subsequentemente, foram sorteadas de forma proporcional dentro de cada classe, um total de 75 quadrículas para amostragem. Visando futuras análises de ocupação, definimos um mínimo de 5 entrevistas por quadrícula, baseado em um Intervalo de Confiança de 0,5 e Probabilidade de Detecção de 0,4 (MacKenzie & Royle 2005). Os questionários foram baseados em MacKenzie & Royle (2005) e consideraram evidências indiretas (pegadas e carcaças de animal predado) e diretas (observação e vocalização) da onça-pintada, além de incluírem questões sobre a distribuição de 9 espécies de presa (cutia – Dasyprocta agouti, queixada – Tayassu pecari, cateto – Tayassu tajacu, veado – Mazama spp., anta – Tapirus terrestris, capivara – Hydrochaeris hydrochaeris, paca – Agouti paca, quati – Nasua nasua, tatu – Dasypodidae). Foram registrados os dados de onça-pintada dos últimos 5 anos, divididos em Ano#1 (últimos 12 meses), Ano#2 (13 a 24 meses atrás) e Ano#3-5 (24 a 60 meses atrás). De forma a testar a confiabilidade das respostas, pranchas com fotos dos animais e desenhos de pegadas em tamanho real foram apresentados a cada entrevistado.

 

Bibliografia

Bressan, P., Kierulff, M., & A. Sugieda. 2009. Fauna Ameaçada de Extinção no Estado de São Paulo. Vertebrados. Fundação Parque Zoológico de São Paulo, SEMA.
Eizirik, E., Kim, J., Raymond, M., Crawshaw, P., OBrien, S., & W. Johnson. 2001. Phylogeography, population history and conservation genetics of jaguars (Panthera onca, Mammalia, Felidae). Molecular Ecology 10:65–79.
MacKenzie D., Nichols, J., Lachman, G., Droege, S., Royle J., & C. Langtimm. 2002. Estimating site occupancy rates when detection probabilities are less than one. Ecology, 83(8), pp. 2248–2255.
Myers, N., Mittermeier, R., Mittermeier, C., Fonseca, G., & J. Kent. 2000. Biodiversity hotspots for conservation priority. Nature 403:24.
Pocock, R. 1939. The races of jaguar (Panthera onca). Novitates Zoologicae 41:406–422.
Rabinowitz A., & K. Zeller. 2010. A range-wide model of landscape connectivity and conservation for the jaguar, Panthera onca. Biological Conservation 143:939–945.
Sanderson, E., Redford, K., Chetkiewicz, C., Medellin, R., Rabinowitz, A., Robinson, J.,& A. Taber. 2002. Planning to saving a species: the jaguar as a model. Conservation Biology 16:58-71.
Zeller, K. 2007. Jaguars in the New Millennium Data Set Update: The State of the Jaguar in 2006. Wildlife Conservation Society.

Região de atuação

mata-atlantica

Equipe responsável

Coordenador do projeto:

Sandra M. C. Cavalcanti, Ph.D. – Instituto Pró-Carnívoros

 

Equipe Executora:

Sandra M. C. Cavalcanti, Ph.D.
Érica Vanessa Maggiorini, bióloga
Míriam Lúcia Lages Perilli, MSc.
Howard B. Quigley, Ph.D.
Kathy Ziegler, Ph.D.
Sahil Nijhawan, analista GIS

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