Dentre os pequenos felídeos que ocorrem no Brasil, Leopardus guttulus (Hensel, 1872), o gato-do-mato-pequeno-do-sul, é considerada a menor espécie. Foi recentemente reconhecida como espécie distinta de L. tigrinus (Schreber, 1775), baseado em evidências moleculares (Trigo et al., 2013) e morfológicas (Nascimento & Feijó, 2017). A espécie distribui-se nas regiões sul, sudeste e centro-oeste do Brasil, partes do Paraguai e Argentina, associada aos ambientes de Mata Atlântica (Nascimento & Feijó, 2017; Sartor, 2020). O limite de distribuição da espécie ao sul do Brasil coincide com o ecótono entre Mata Atlântica e Pampa, na região central do estado do Rio Grande do Sul.

Trigo et al. (2008; 2013; 2014) constataram a existência de uma zona de hibridização entre L. guttulus e L. geoffroyi nesta região de ecótono. Acredita-se que a ocorrência de hibridização entre as duas espécies tenha se intensificado há cerca de dois séculos, período de grande conversão de áreas de Mata Atlântica em ambientes abertos antropizados, especialmente de lavouras anuais (Trigo et al., 2008). A conversão e degradação de ambientes naturais e suas consequências é um exemplo de impacto gerado pela ação humana no limite sul de distribuição da espécie. Outras ameaças às populações de L. guttulus incluem: a transmissão de doenças por animais domésticos e exóticos; atropelamentos; caça por retaliação e conflitos com proprietários rurais (De Oliveira et al., 2016, Peters et al., 2016).

Atualmente, L. guttulus é uma espécie ameaçada, classificada como Vulnerável globalmente (IUCN, 2014), a nível nacional (Trigo et al., 2018), e estadual (Rio Grande do Sul, 2014). Os indicativos são de declínio populacional em todos os níveis (de Oliveira et al., 2016).  O atual status de ameaça de L. guttulus implica em sua inclusão no Plano de Ação Nacional para Conservação dos Pequenos Felinos (ICMBio). O PAN Pequenos Felinos, em seu segundo ciclo (2022-2027), inclui uma gama de objetivos que visam promover e reunir ações de mitigação às ameaças, bem como o levantamento de dados primários sobre as populações de pequenos felinos brasileiros. A escassez de dados referentes às populações de L. guttulus em seu limite sul de distribuição é um obstáculo na construção de ações para a conservação. O estabelecimento de medidas estratégicas para a espécie depende da obtenção de dados básicos sobre sua distribuição, abundância e respostas às perturbações.

Diante deste cenário, o objetivo deste projeto é estimar a densidade populacional de Leopardus guttulus e descrever seus padrões de atividade no sul da Mata Atlântica e região de ecótono com Pampa, totalizando 7 áreas amostrais até o momento. O projeto inclui, além das atividades de pesquisa, a integração das comunidades locais em atividades de divulgação científica e educação ambiental. Buscamos contribuir para o Plano de Ação de Conservação dos Pequenos Felinos Brasileiros (ICMBio), gerando dados relevantes acerca da história natural e ecologia desta espécie globalmente ameaçada.

Referências

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