Gato-palheiro-pampeano

Leopardus munoai foi recentemente proposta como uma espécie válida dentro do complexo conhecido como Leopardus colocola (Nascimento et al. 2020). A classificação de espécies dentro do complexo Leopardus colocola sempre foi bastante discutida e várias classificações taxonômicas já foram propostas, sendo reconhecidas de uma a seis espécies distintas (Garcia-Perea 1994, Kitchener et al. 2017, Nascimento 2010). O estudo recente de Nascimento et al. (2020), envolvendo análises morfológicas, genéticas e ecológicas aponta para o reconhecimento de duas espécies no Brasil, sendo uma delas Leopardus munoai. Este felino possui pelagem longa com coloração variando do amarelado ao acinzentado e uma faixa de pelos mais longos que vai da cabeça à base da cauda e se eriça quando o animal se sente ameaçado. O pelo tende a ser mais áspero que nas outras espécies de pequenos felinos. O padrão de pelagem dominante de L. munoai possui listras oblíquas, distintas ou parcialmente distintas, na lateral do corpo, e listras negras transversais nos membros. As patas dianteiras e traseiras tendem a apresentar apenas as superfícies palmar/plantar de coloração negra, não apresentando as “botas” negras completas características de L. braccatus. No entanto, os padrões de pelagem parecem ser variáveis, com outras formas sendo registradas no Rio Grande do Sul.

A espécie está restrita ao sul do Brasil, na porção sul do estado do Rio Grande do Sul, estendendo-se por todo o Uruguai e nordeste da Argentina (Nascimento et al. 2020). No Brasil, sua distribuição está restrita ao bioma Pampa (Trigo et al. 2013, Tirelli 2017). Este é seguramente o felino mais desconhecido e o mais ameaçado em todo o país, tendendo a ser extremamente raro no Pampa. Neste bioma está associado a campos com mosaicos de vegetação (Tirelli 2017), enquanto no Uruguai aparentemente apresenta alta adequabilidade em áreas úmidas ou campos úmidos (Bou et al. 2019). Atualmente, estas áreas encontram-se sob forte impacto agropecuário em ambos os países. É um animal pouco estudado, com pouquíssimas informações sobre sua ecologia. Possui uma dieta mais generalista que outras espécies de pequenos felinos de ocorrência no Pampa, consumindo principalmente roedores terrestres de pequeno porte (Migliorini et al. 2018).

A principal ameaça à espécie inclui a transformação de seus habitas preferenciais em áreas de agricultura e pastagem intensiva (Indrusiak & Eizirik 2003, Trigo et al. 2013). Outras ameaças incluem: a caça ou abate preventivo por retaliação à predação de aves domésticas (Peters et al. 2016); a transmissão potencial de doenças a partir de carnívoros domésticos; os altos índices de atropelamentos em rodovias que atravessam intensivamente o bioma Pampa (Indrusiak & Eizirik 2003, Trigo et al. 2013). Devido ao hábito observado de permanecer deitado e imóvel em meio ao pasto quando se sentem ameaçados, potencialmente se tornam alvos fáceis ao abate por humanos e à predação por cães.  O reduzido conhecimento existente sobre a biologia desta espécie limita a possibilidade de estratégias de conservação eficazes. É classificado pela IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza) como espécie “Quase ameaçada” internacionalmente e pelo ICMBio-MMA como ameaçada de extinção no Brasil, na categoria “Vulnerável” (Queirolo et al. 2018). No entanto as classificações atuais referem-se à Leopardus colocola e novas avaliações deverão ser feitas.