Gato-do-mato-do-sul

Leopardus guttulus

Taxonomia
Nome comum em inglês

Southern tiger cat

Nome científico

Leopardus guttulus

Nome/s comum em Português

Gato-do-mato-do-sul, gato-do-mato-pequeno

Mapa de distribuição - IUCN

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Descrição física

Considerada até pouco tempo como uma subespécie de Leopardus tigrinus, Leopardus guttulus foi recentemente reconhecida como espécie válida com base em estudos genéticos e morfológicos (Trigo et al. 2013a, Nascimento & Feijó 2017). Com relação à sua espécie-irmã, o gato-macambira, tende a apresentar um porte um pouco mais robusto, cauda mais curta e grossa e coloração de pelagem variável, com tonalidades entre o amarelo-claro e o castanho-amarelado, em tons que tendem a ser mais escuros que na espécie do norte do país. As rosetas tem a tendência de serem maiores e as orelhas menores e mais arredondadas (Trigo et al. 2013a, Nascimento & Feijó 2017). A pelagem da barriga é pálida coberta com manchas escuras e as orelhas são pretas na porção posterior, com uma mancha central branca. O melanismo (toda pelagem preta) é relativamente comum na espécie. Os pelos são todos voltados para trás, inclusive os da cabeça e nuca (Oliveira & Cassaro 2005). Apesar das diferenças morfológicas gerais descritas entre o gato-do-mato-do-sul e o gato-macambira, há uma considerável variação dentro de cada espécie que muitas vezes dificulta uma identificação precisa.

Ecologia e Habitat

Ocorre nas regiões sul, sudeste e centro-oeste do Brasil, além do Paraguai e nordeste da Argentina (Nascimento & Feijó 2017). Sua distribuição compreende principalmente o Brasil, ocorrendo nos domínios do Cerrado e Mata Atlântica, apesar de parecer estar associado principalmente ao último bioma (Sartor 2020). Ainda há muitas incertezas sobre sua exata distribuição, especialmente quanto aos seus limites de ocorrência ao norte da distribuição (Oliveira et al. 2016).
A espécie pode ocorrer em diferentes tipos de habitat (Oliveira et al. 2016), mas apresenta uma forte associação com ambientes florestais (Goulart et al. 2009, Cruz et al. 2019, Sartor 2020). Pode ser encontrado em áreas alteradas, próximo de plantações de espécies exóticas ou áreas de agricultura, mas somente em áreas que fazem limite com a vegetação nativa (Oliveira et al. 2016). Sua alimentação consiste basicamente de pequenos roedores (geralmente menores que 1kg), lagartos e pequenas aves (Wang 2002, Tortato 2009, Silva-Pereira et al. 2011, Trigo et al. 2013b, Seibert et al. 2015, Nagy-Reis et al. 2019). Apresenta padrão de atividade variável entre noturno e catemeral (ativos durante o dia e a noite), com capacidade de ajustar seus períodos de atividade na presença de potencias competidores interespecíficos e em áreas impactadas pela presença humana (Tortato & Oliveira 2005, Di Bitetti et al. 2010, Oliveira-Santos et al. 2012, Massara et al. 2016, Cruz et al. 2018, Nagy-Reis et al. 2019). Existem poucos dados publicados sobre densidade da espécie e os valores encontrados podem ser bastante variáveis, de 0,08 a 0,87 indivíduos/km2 (Kasper et al. 2016; Tortato & Oliveira 2005). No entanto, Oliveira et al. (2016) estimam uma densidade entre 1 a 5 indivíduos/100 km² como usual ao longo de grande parte da distribuição da espécie.

Ameaças e conservação

A destruição e a fragmentação dos ambientes florestais são consideradas as principais ameaças à espécie. Além destas estão a potencial transmissão de doenças a partir de carnívoros domésticos e os altos índices de remoção de indivíduos da natureza, por atropelamentos e caça ou abate motivada pela predação de aves domésticas nos ambientes rurais (Oliveira et al. 2016, Peters et al. 2016). É classificado pela IUCN (União Internacional para Conservação da Natureza) como espécie “Vulnerável”  no mundo e pelo ICMBio-MMA como ameaçado de extinção no Brasil, na categoria “Vulnerável” (Trigo et al. 2018).

Galeria de imagens
Informações gerais

Valores médios com mínima e máxima em parênteses

Comprimento do corpo / cauda (cm):

(36,5-53,9)a / (22,8-35)a

Dieta

Carnívora

Peso (kg) / Altura (cm):

2.37 (1,03-4,6)a / -

Área de habitação (km2):

(2-25)b

Número de filhotes / Gestação (dias):

(1-4) / (75-78)

Longevidade (anos):

11

Estrutura social:

Solitários

Padrão de atividade:

Noturno e diurno/crepuscular

a Nascimento & Feijó 2017; b Oliveira et al. 2010; c Oliveira & Cassaro 2005

Links online

IUCN redlist(https://dx.doi.org/10.2305/IUCN.UK.2016-2.RLTS.T54010476A54010576.en.) apresenta uma síntese dos conhecimentos atuais sobre a distribuição e estado de conservação.

IUCN Cat Specialist Group species accounts (descrições das espécies de felinos selvagens): http://www.catsg.org/index.php?id=600

Referências

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